Essa delícia ocupa o posto de um dos alimentos mais consumidos pelos
brasileiros. E, apesar das acusações que ainda carrega,é possível,
sim, transformar um bife em aliado da saúde
POR Ana Cecília Vasconcelos
Desde que o ser humano passou a ter uma preocupação freqüente com a
qualidade de vida e a longevidade e relacioná-las com a prática de uma
alimentação adequada, a carne bovina passou a ser vista ora como vilã,
ora como indispensável.
Diversos estudos e até mesmo especialistas apontaram o alimento como
precursor dos mais variados males, entre eles as doenças
cardiovasculares, tendo em vista o alto teor de gordura saturada
presente em determinados cortes. Para algumas pessoas, aliás, tirar
totalmente a carne vermelha do cardápio foi o primeiro passo para
virar a mesa em busca de hábitos verdadeiramente mais saudáveis.
Médicos e nutricionistas, no entanto, alertam para os mitos que ainda
cercam essa preferência nacional. Diferentemente do que muitos
imaginam, não existe restrição quanto ao seu consumo.
"Falar que a carne vermelha não é saudável é errado, não existe
proibição para o seu consumo", diz Cristiane Santos Andreoli,
professora de nutrição do Centro Universitário São Camilo,
especialista em Gastropediatria e mestre em Ciências da Saúde pela
Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
De acordo com os especialistas, o alimento é excelente fonte de
proteína, vitaminas, sais minerais e deveria ser consumido
regularmente. Sua composição nutricional agrega elementos fundamentais
à manutenção da saúde humana, como vitamina B12, zinco e selênio.
Além disso, a carne bovina oferece o ferro tipo Heme, elemento
encontrado apenas em alimentos de origem animal. "Esse nutriente é
responsável por dar origem à hemoglobina, que carrega o oxigênio até
as células", explica o nutrólogo Edson Credidio, da Associação
Brasileira de Nutrologia (Abran). Além disso, a estrutura desse
mineral é melhor absorvível pelo corpo e encontra-se em grande
concentração nas carnes bovinas.
Incluir este alimento nas refeições diárias, portanto, é importante
para a formação de tecidos, equilíbrio dos hormônios e secreções
corporais. "Como a mulher perde muito sangue durante a menstruação é
preciso ficar atenta aos níveis de ferro e consumir alimentos que
tenham esse elemento na sua estrutura", recomenda a professora
Cristiana Andreoli, da Unifesp.
Quando se leva em conta o nível de consumo da carne bovina, no brasil,
é possível entender a urgência dos especialistas em eliminar os mitos
e tentar tirar o melhor proveito dela. Uma pesquisa do ibge apontou a
carne como um dos alimentos mais consumidos pelos brasileiros,
ocupando o 3º lugar, entre 10 opções alimentares analisadas.
Malefícios questionados
Alguns estudos associam o consumo de carne bovina a males como o
câncer de cólon e de mama. "Eles sugerem que sua ingestão em excesso
pode estar associada a essas doenças, porém, ainda não há comprovação
científica. Até porque, a maior parte dessas pesquisas trabalha com
valores muito altos de consumo", garante a nutricionista Roberta
Schen, do Hospital Albert Einstein, de São Paulo.
Outra relação que colocou a carne vermelha de vez no banco dos réus é
a do consumo de bifes e churrasco com o maior risco de doenças
cardiovasculares. Essa possível ligação se deu na década de 60, quando
o colesterol passou a ser visto como um fator de risco para o coração.
Nesta época, esse alimento foi abolido da dieta de certos pacientes
por alguns especialistas, uma vez que ficou comprovado que a gordura
saturada presente na carne eleva os índices de colesterol ruim (o LDL)
no organismo.
Hoje em dia sabe-se, porém, que as pessoas com predisposição
(genética ou hereditária) a esses males não passam a desenvolvê- los
pelo consumo em si de carne vermelha e sim por um histórico de
alimentação inadequada - o que inclui a ingestão das vilãs da vez, as
gorduras trans, encontradas na maioria dos alimentos industrializados
e que além de aumentar o colesterol ruim diminuem o bom (HDL) - aquele
responsável por varrer o excesso de gordura das paredes dos vasos
sangüíneos.
Vale o bom senso
Como ocorre com qualquer alimento que colocamos no prato, não é a
carne vermelha sozinha que será capaz de desencadear problemas de
saúde. O maior risco está na forma e na quantidade que consumimos.
Apesar de o colesterol estar agregado a um significado único e
exclusivamente ruim, uma quantidade mínima dele é necessária para
algumas funções orgânicas básicas.
"Como pela síntese de alguns hormônios", exemplifica a nutricionista
Roberta Schen. "Por isso, não se deveria excluir a proteína de origem
animal da alimentação. O problema é o abuso", alerta a professora
Cristiane Andreoli.
A recomendação para uma ingestão saudável de carne vermelha é de 65 a
100 gramas, de três a quatro vezes por semana. E, no caso de crianças
e gestantes, 170 gramas, devido a uma maior necessidade nutricional,
especialmente de ferro, nessas fases da vida.
É bom ressaltar que a simples opção por cortes mais magros, por
exemplo, já exerce uma grande diferença não só na balança, como na
saúde. Segundo a nutricionista Roberta Schen, do Hospital Albert
Einstein, toda carne tem uma dose de gordura (a chamada gordura
intrínseca) em sua composição.
Portanto pode - se dizer que há dois grupos de carne vermelha, os
cortes gordos (picanha, cupim e maminha) e os magros (patinho, vitela,
lagarto, coxão mole, coxão duro). Ambos oferecem quantidade de
proteína semelhantes. Mas os corte magros oferecem menos teor de
gordura saturada.
Boi saudável
A forma como o gado é tratado antes de ir para o abate também aparece
na lista dos problemas relacionados à carne vermelha. O medo do uso de
hormônios na ração dos bois para fazê-los engordar é o mais comum.
Os especialistas lembram, porém, que os criadores sérios não utilizam
esse artifício - não apenas porque o uso de anabolizantes na pecuária
é proibido aqui no Brasil desde a década de 80, mas também porque o
país firmou-se como grande exportador de carne vermelha -, e os
europeus, principais compradores, ficam muito atentos a esses
descuidos.
Boa parte dos gados criados por aqui, aliás, são do tipo 'boi verde' e
' boi orgânico', porque não costumam se alimentar com rações de origem
animal - que, acredita-se, tenha sido a porta de entrada para o mal da
vaca louca, uma doença que provoca lesões no cérebro e que há pouco
mais de dez anos atingiu rebanhos no exterior. Ambos são considerados
bois ecológicos (saudáveis), mas há diferenças.
O verde é criado em pasto sem agrotóxico, com adubação verde e
fertilizantes sintéticos. Sua suplementação é feita com alimentos de
origem exclusivamente vegetal (milho e cana-de-açúcar) e ele só recebe
medicamentos alopáticos, como antibióticos, em caso de necessidade. Já
o orgânico é criado no mesmo tipo de pasto, porém sem a utilização de
fertilizantes - a adubação é feita com o próprio esterco dos animais.
A suplementação também é vegetal, sendo 80% dela de origem orgânica.
Antibióticos são proibidos, já que o gado é tratado com homeopatia,
fitoterapia e acupuntura.
Vale lembrar, no entanto, que ambos recebem a vacina contra a febre
aftosa - doença altamente infecciosa que, em conseqüência da febre e
da perda de apetite, provoca perda de peso, crescimento retardado e
menor eficiência reprodutiva do gado e pode levar à morte. A vacinação
do gado é obrigatória no Brasil e deve ser periódica, geralmente de
seis em seis meses, a partir do 3º mês de idade do bezerro.
Fotos: Fernando Gardinali
Fonte: http://itodas.uol.com.br/portal/final/materia.aspx?cod=5694&canal=12
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